Ori e Okan: cabeça e coração juntos

Maio 3, 2021 por Dayane

“A cabeça de uma pessoa faz dela um rei”. O provérbio é yorubá. É o nosso destino, nossa conduta, nosso comportamento, nossa função na comunidade, nosso elo com as pessoas, nosso elo conosco. Talvez esse provérbio também fale sobre o cuidado com o qual pisamos na terra: “está firme? Não está firme?”; o cuidado nas nossas tomadas de decisões. Para mim, pensar sobre Ori é pensar sobre como pensar melhor e sobre como sentir melhor. Quem instituiu a cisão entre pensar e sentir quis que nós nos separássemos de nós mesmos, ruir o sentido de comunidade, de continuidade de uma pessoa na outra. Não há separação. Ori e Okan. Cabeça e coração são juntos. Talvez não adiante um bom destino se não soubermos lidar bem com as nossas emoções.

Há um outro provérbio yorubá que diz mais ou menos assim: “a água na panela que ferve demais, entorna e apaga o fogo que mantém a própria água aquecida”. A chama deve ser contínua para que a água aqueça, mas não entorne. O fogo é a nossa chama interna. Quantas vezes o fogo aumenta e a nossa água esborra? Quantas vezes não acolhemos nossas emoções e elas correm soltas descontroladas ou são completamente oprimidas dentro de nós nos causando dores e doenças?

Nesse tempo de pandemia, isolamentos, mais de 400.000 morte por causa do Covid-19, tanto desemprego, aumento da fome e da miséria, saudades das pessoas queridas, falar de Ori é também falar de saúde mental e falar sobre saúde mental é falar sobre emoção, sobre sentir, pois cada emoção nos diz algo sobre nós, sobre o nosso estado de espírito, sobre a nossa cabeça.

Eu compreendo, eu sei, que temos passado por momentos muito difíceis que fogem do nosso controle, mas sei também que para nós, aborixás, adoradores de orixá, o equilíbrio tende sempre a ser refeito e que os nossos, quando partem, não deixam de existir, tornam-se nossos protetores, nossos guardiões. Sei também que somos uma grande comunidade e que há afeto nela. Um ebó pode nos ajudar, mas uma escuta ativa, acolhedora também. Que não nos percamos uns dos outros neste momento tão difícil. Nossa fé nos alimenta e o afeto entre nós e as pessoas que amamos nos alimenta também. Obaluaye foi desrespeitado e depois reconhecido e louvado com respeito, Oxalá passou anos numa masmorra e depois teve sua dignidade e sua honra refeitas com glórias. Que a força de resistência de Obaluaye e Oxalá sejam a nossa força.

Hoje, mesmo em meio Às perdas e a crise coletiva em que estamos em que até o abraço precisa ser evitado, penso e sinto que devo Insistir em rezar de coração, acreditar de coração, olhar de coração, amar inteiramente de coração e acreditar que esta é também uma missão do meu Ori. Ser objetiva sem perder minha sensibilidade.

Um abraço distante e afetuoso,

Dayane Silva

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